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Era o que faltava

  • Foto do escritor: Gabriel
    Gabriel
  • 6 de jun.
  • 5 min de leitura

Tive que fazer um jejum de 12 horas para uns exames de sangue. Easy, sem frescura, mas ando em dias que chegar em casa e comer/beber algo é quase um anestésico - e um misto de Jardim do Éden com missão cumprida. Tinha um exame de urina para fazer também, o que obriga o cara a andar até o laboratório com um potinho plástico repleto de xixi. Coisas.


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Tem poucas dicas no mundo de hoje que o cara pode dar sem aquele ar de quem está vaticinando algo e/ou querendo lograr em cima de alguma lição de moral mequetrefe disfarçada de conselho ou direcionamento coach, e uma delas é: ô, você. Mormente você, que já, passou dos 40: bora ver ao menos um médico(a) por ano que lhe passe uma requisição para uma bateria de examezinhos de sangue aí, ao menos aquelas seis ou quatorze coisas que é bom dar uma olhadinha e que têm ligação direta com nosso cotidiano e a vida da qual todo mundo reclama? Colesterol (o bom, o ruim, a média entre os dois - anos fazendo isso e nunca decoro qual é o quê), Glicose, Triglicerídeos. Vitaminas ("D" tá todo mundo em falta, relaxa). Homens: PSA e as paradas relativas à próstata, essas coisas. Umas horas programadas de jejum na semana, um potinho. É mais rápido que parece - e em alguns laboratórios ganha lanche depois.


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Hoje tinha lanche. Um bolo bem suave e molhadinho, que evocava algo como chocolate e passas ao rum. Tinha café em variações sortidas, mas daquelas máquinas horrorosas lá, então passei.


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Tinha que fazer - como usualmente é - o recolhimento do xixi na primeira vez em que se urina de manhã (desprezando o primeiro jato, higienizando a área, praxe). Mirando no potinho. O problema é que eu senti vontade cerca de uma hora antes, algo como 6h da manhã, e pulei da cama e fui reto para o banheiro. Daí pelas 7h e pouco não foi o primeiríssimo e talvez não tenha valor de análise tão útil. Fraudei o teste? Tipo Zendaya drogada na série? Tipo jogadores que tentam arranjar o xixi de outros no anti-dopping?


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Segundo o Google deveria haver uma carência de ao menos duas horas sem urinar. É. Fraude. Anula, pelo VAR.


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Não olhe o Google nem muito menos as perguntas e respostas sugeridas após a primeira pesquisa - que você não deveria ter feito - sobre exames e sintomas (isso é mais difícil do que 12 horas de jejum e caminhar 6 quadras segurando um saco plástico com o potinho do exame de urina. É uma tentação muito grande).


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A satisfação que dá quando o resultado dos exames é satisfatória é bastante inebriante para muita gente. Para mim é. É como o resultado de uma prova onde você foi muito bem. É uma boa notícia pela qual você torcia. Mas também é algo que gera um certo vazio dado que basicamente, é um laudo te dizendo que todos seus problemas seguem os mesmos em todos os outros setores da vida, e aquilo que era para estar normal está normal. Ou seja, a 'boa notícia' é que você não ganhou na loteria, mas, veja bem: não está devendo nada na praça, idem. Pode continuar, aí, seja lá o que você estava fazendo. Nos vemos em alguns meses - e dessa vez veja se urine conforme o procedimento, por obséquio.


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Queria mais daquele bolinho, mas para tomar com um café bom, tipo o passado em casa. Tinha paçoquinhas-rolha em um pote, também. Pensei em pegar uma para levar para casa. Admito: pensei em pegar algumas e por na mochila. Elas e um pacote de Club Social Integral dentre os vários disponíveis. Não o fiz. Peguei uma fatia do bolinho e mais um resto de fatia que sobrou de um corte a faca mal feito, o que computa algo como 1,3 fatias para mim. E deu. Não exageremos (Triglicerídeos, Glicose).


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É exatamente isso, no fim: ando tão, mas tão cheio de problemas relativos a prazos e a volume de trabalho que qualquer resultado alterado ou ruim de um exame de rotina seria um desastre. Estamos como no 'capitalismo': correndo pelo mínimo. Do tipo: ah, que bom, meus leucócitos e bastonetes estão na casa dos milhões usuais. Minha tireoide está ok. Agora é só se preocupar com as outras onze coisas que estão me afligindo do corpo para fora. Imagina se sai uma glicose errada, um colesterol (o ruim) alto? É mais um problema, isso? É sério, mesmo? Descobrir uma coisa séria em um exame que se presta a eventualmente descobrir coisas sérias? Era o que me faltava.


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Os exames laboratoriais hoje em dia facilitam muito a vida dos ansiosos porque costumam ser divulgados com índices bem didáticos onde aparece ali o que seria um padrão 'regular', um 'bom', um 'ótimo' e/ou o patamar onde há alguma coisa bem errada e o cara já pode acionar o serviço funerário de sua confiança. Na maioria da minha vida fui um aluno que se pode chamar de 'bom', com vários momentos-pico de algo como 'excelente', um grande lago de atuações 'na média' e algumas derrapagens que causaram acidentes grosseiros aqui e ali. Geralmente em relação às matérias que eu gostava, na escola, ou quando me direcionei para as áreas que eu queria atuar e pesquisar com mais afinco - da pós-graduação ao doutorado - posso sem modéstia dizer que fui positivamente fora da curva. Desde que completei 40 anos coloquei esse tipo de exame e consulta médica na rotina, tenho sido um CDF na maioria das 'disciplinas' dos exames. Sempre tomo pau na questão de algumas vitaminas que estão abaixo (mas que não são aquelas que ocasionam nada de muito grave), mas geralmente tiro 'notas altas'. É bacana acompanhar e ver seus índices não apenas na faixa do normal/esperado como dentro ou bem próximos das marcações do que seria formidável. O dia de receber os resultados geral alguns minutos de conferência que são bem excitantes.


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Tenho que encarar, as usual, cerca de 5 horas de estrada ainda hoje. E tenho coisas para fazer, dessas que não param para me aplaudir se meu colesterol e minha glicose estiverem em níveis supimpa. E do tipo que seguem ali enquanto eu escrevo sobre minha manhã, em blog.


Tipo aquela frase atribuída ao John Lennon sobre a vida ser o que acontece quando você faz outros planos. Os problemas seguem ali enquanto meu sangue em tubinhos periga atestar que nesse campo está tudo tranquilo.


PS: nem me invente de.


UM FILME: eu não gostei muito de "Pecadores", de Ryan Coogler. As pessoas elogiando demais, e comparações com "Um drink no inferno" pareciam ser fruto de falta de imaginação colonizada do 'cinéfilo' que não sabe nada muito além de "Tarantino" e coisas assim. Adivinhe: achei a comparação não só válida como o filme (com Tarantino na equipe, mas de Robert Rodriguez) bem mais divertido. A questão do blues sulista e do protagonismo negro se dilui em um roteiro fraco e um miolo de "ação" meio sonífero. Há momentos bons. A cena pós-créditos (não está aqui quem deu o spoiler: com Buddy Guy) eu sinceramente achei melhor que todo o filme.


UM DISCO: e essa banda Turnstile que até anteontem eu nem sabia o que era e já considero muito e mal e mal saiu esse disco novo "Never Enough" e eu escuto toda hora, hein, hein?


UM LIVRO: já que não me agradei muito de "Pecadores" - e que você talvez tenha entrado no hype - vou recordar aqui de uma obra muitíssimo interessante que procura dissecar a representatividade negra e sua simbologia (e sua visão "padrão") nos filmes de terror, chamada "Horror Noire", de Robin R. M. Coleman. Do já manjado personagem de "A noite dos mortos vivos" passando por insights sobre várias experiências e referenciais, o ensaio/pesquisa é um barato e discute questão racial de uma forma pouco usual (mas poderosa) em seu ineditismo.


 
 
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