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  • Foto do escritor: Gabriel
    Gabriel
  • 11 de jul.
  • 4 min de leitura

Morro da Embratel coberto por fina camada de névoa, visto do estacionamento. Só quem viveu sabe.
Morro da Embratel coberto por fina camada de névoa, visto do estacionamento. Só quem viveu sabe.

Então: deu tudo errado.


Tinha um planejamento absolutamente meticuloso para hoje que mataria duas obrigações na forma de calls no período da manhã e me daria uma tarde inteira livre para me dedicar a um planejamento muito específico sobre o qual falarei mais abaixo.


Mas vivenciei aquele terror moderno simbolizado por um cone de ondinhas de captação no canto superior direito da tela do celular ao lado de um ponto de exclamação que - quando da busca de mais informações - aparece na forma da frase "Conectado, mas sem internet".


Depois a gente fala da raiva exprimida por uma coisa que está 'conectada' mas - ausente da principal propriedade resultante da própria conexão. A questão é que - sim, tirei por alguns segundos o roteador da tomada, e ele religou com a mesma luz vermelha de alerta indicativo de something, piscando - deu pau na fibra da redondeza. E aí, o que a gente faz?


****


Sempre há o celular, seus próprios dados e uma miríade de possibilidades, mas há um quê de abandono: tá sem internet. A moral de ter um escritório lindo montado em casa se não há conexão cai a índices baixíssimos, e mesmo que para algumas das minhas tarefas não fosse necessária exclusivamente a web, eu sou tomado por um sentimento muito ruim, fruto de uma singela mania: não consigo sossegar quando algo está errado, assimétrico. Esses dias consegui a proeza de danificar a tampa de uma garrafa térmica caríssima que comprei fora do Brasil em viagem de férias, ano passado, e que usava para me servir do melhor café (aquele coado por mim mesmo) e evitar tanto aqueles de nome esquisito e preço abusivo em quiosques fancy quando o Melitão ou o Pelé da licitação. Ignorando completa e burramente o fato de que um troço desses é feito para não vazar, eu tinha a mania de fechar a tampa num modo meio Incrível Hulk o que, pelas tantas ocasionou o esgarçamento da borracha vedadora de tal maneira que a coisa não rosqueia mais por inteira até a tranca. Mais do que me sentir burro e perder dinheiro, aquela sensação de que algo está errado, incompleto, equivocado, maculado. Tem algo que não deveria estar daquele jeito (acho que é meio que assim que donos de carros se sentem quando há algum tipo de micro arranhão na porta dianteira que os faz nutrir um sentimento choroso de que a vida não vale mais à pena - nunca entendi tamanho drama, mas eu, quanto a carros e uma inata (não) paixão por eles não sou parâmetro).


Não tem internet. Deveria haver. Sofro duplamente: algo está errado (e nem é naquele pique de 'estou pagando'). E sofro porque tinha coisas que dependiam de conexão boa.


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Meu plano glorioso era fazer uma coisa altamente vintage para os padrões atuais e quase impensável: eu queria passar parte do dia na Biblioteca da PUCRS (acho breguíssimo falar alma mater, mormente estando no Brasil em 2025): é, ao fim e ao cabo, o lugar que me acolheu quando às voltas da dissertação do Mestrado (e a internet quebrava vários galhos, mas ainda havia a necessidade material de consulta física), e, anos depois, quando na peleia do doutorado (quando já conseguia via pdfs e drives - foi o ano que explodiu geral o uso do dropbox - quase tudo o que eu precisava, mas buscava por vezes a paz que só uma biblioteca proporciona).


É um lugar que volta e meia me acolhe quando você quer ter não apenas o prazer de pesquisar mudando de ares, de ler em outro cenário e de olhar uma maldita numeração de página de um maldito livro real (porque, pelo amor de deus, quem acha que baixar uma obra em pdf cumpre a função com aqueles capítulos naqueles hyperlinks azuis horrorosos, às vezes com fonte diferente da original e - a treva - sem paginação, está maluco).


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Era para eu resolver os compromissos e calls da manhã em paz e garbosamente me dirigir à biblioteca de bicicleta, como fiz ao longo de todo período do doutorado (em 2011 resolvi colocar um dos meus sonhos - inclusive estético-estilísticos - de toda vida em prática, e passar a usar real/oficial a bicicleta como meio de transporte urbano) e de lá só sair para tomar algum café/lanche na vasta e meio estapafúrdia oferta de bares e cafeterias que o campus oferece atualmente.


O que eu ganhei foi uma ida totalmente derrotada no trecho de manhã que me cabia e uma volta tímida para o horário do almoço onde descobri que nada ainda, da conexão (as operadoras e seu incrível poder de responder algo como "estaremos arrumando seu problema de hoje às 11h46 até amanhã às 20h15 - fique ligado!").


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Na época do mestrado, eu estipulei para mim, mesmo após o final do cumprimento dos créditos - quando, geralmente, pessoas da espécie "Mestrando(a)" desaparecem da universidade - eu tiraria um dia da semana para ficar na biblioteca. Eu ia e voltava a pé (dava uns 8km, cada trecho, do lugar onde eu morava) feliz ouvindo música, com a mochila repleta de materiais e livros retirados/a serem devolvidos. Andar. A pé. Cruzando ruas e quadras ao sabor do "tanto faz" é quase um ato de rebeldia frente ao tipo de vida frenética que levamos.


Na do doutorado, o mesmo, mas eu fazia o trajeto de bicicleta e encarava, na volta, a subida forte da Salvador França só pelo prazer de descer a Carlos Gomes de forma longa, sem praticamente mover uma palha, só com a inércia e o vento na cara. Ao se locomover de bicicleta na calada da noite, você vê outra cidade.


Foram dois momentos bem diferentes, onde minha situação, em vários sentidos (sobretudo financeira) era bem distinta, mas lembro de ambos com carinho imenso e saudades idem.


Hoje foi tudo improvisado, corrido, sem charme, meio inútil. Foi utilitário, cronometrado, prático. Linha reta, caminho mais 'em conta'. Não fruí nada. Seria mais efetivo pegar um Uber. Enfim: nojo.


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Deu para fazer duas coisas ao final da tarde/início da noite quando magicamente a internet voltou: realizei uma das reuniões que estava encubada desde a manhã e escrevi esse post ruim aqui.



 
 
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